Delator da Odebrecht relata pagamento de propina de R$ 3,6 milhões a Geddel Vieira Lima


O ex-ministro Geddel Vieira Lima é suspeito de receber R$ 3,6 milhões de propina da construtora Odebrecht entre os anos de 2007 e 2010, quando estava à frente do Ministério da Integração Nacional, durante o governo Lula. A acusação foi feita pelo ex-executivo da empreiteira João Pacífico, em delação.

Segundo Pacífico, o repasse a Geddel foi registrado no sistema da Odebrecht que controlava pagamentos não declarados. Ainda conforme a delação, no esquema, o político baiano era identificado como “Babel”. Um dos motivos apontados para o pagamento, segundo o delator, foi a ajuda de Geddel para o pagamento referente a um contrato da empreiteira com a prefeitura da capital baiana, à época.

Os serviços prestados pela Odebrecht , de acordo com Pacífico, integravam o projeto chamado de Transporte Moderno, que contemplava várias intervenções em Salvador, sobretudo obras viárias que reduzissem congestionamentos.

Nos doze meses antes da intervenção de Geddel, segundo o delator, a Odebrecht tinha recebido R$ 12 milhões pelo contrato com a prefeitura. Nos doze meses seguintes, a partir de 2007, no entanto, os pagamentos se regularizaram e atingiram R$ 22 milhões, montante que teria se avolumado a partir da intervenção do ex-ministro para que a gestão municipal efetuasse os pagamentos à empreiteira.

Ainda conforme o delator, Geddel começou a pedir recursos com a proximidade das eleições de 2008. Conforme Pacífico, os recursos não eram todos para o ex-ministro, mas também para o PMDB da Bahia.

Na sexta-feira (14), Geddel disse que a acusação é “desavergonhada mentira”. Ele disse ainda, que, na Justiça, demonstrará que essa delação é “obra de ficção científica”.

Delações

Geddel foi citado por cinco delatores da Odebrecht. Por ordem do ministro Edson Fachin, as menções foram enviadas para análise da Justiça Federal na Bahia e no Piauí, já que ele não tem foro privilegiado.

Uma das acusações que pesa sobre Geddel é o suposto recebimento de R$ 210 mil de propina em 2010, quando era ministro da Integração Nacional no governo do ex-presidente Lula. A suspeita foi levantada com base em depoimento de delatores da Odebrecht Ariel Parente, João Antônio Pacífico Ferreira, Cláudio Melo Filho e Paulo Falcão Corrêa Lima Filho.

Os colaboradores relatam acordo de mercado entre empreiteiras para a obra “Tabuleiros Litorâneos da Parnaíba”, nos municípios de Parnaíba e Buriti, no estado do Piauí. Sobre esta denúncia, Geddel disse na quinta-feira (13) que não teria “nada a declarar”.

Histórico

Geddel foi ministro da Secretaria de de Governo da gestão de Michel Temer, mas deixou a pasta depois da suspeita de ter feito pressão para liberar a obra de um prédio residencial em Salvador.

Também atuou como ministro da Integração Nacional do governo Lula, entre 2007 e 2010, depois de ter sido crítico ferrenho do primeiro mandato do petista e defensor do governo Fernando Henrique Cardoso (PSDB). No ministério, encampou a transposição do Rio São Francisco, que prometeu efetivar em seu mandato.

Atuou como vice-presidente de Pessoa Jurídica na Caixa entre 2011 e 2013, cargo do qual chegou a pedir exoneração pelo Twitter à presidente Dilma, pela possibilidade de concorrer nas eleições seguintes. Quem o convidou para o cargo foi Temer. Foi derrotado por Otto Alencar (PSD) na eleição ao Senado.

Formado em administração de empresas pela Universidade de Brasília, é natural de Salvador, onde foi assessor da Casa Civil da Prefeitura entre 1988 e 1989. Foi diretor da Empresa Baiana de Águas e Saneamento (Embasa) em 1989 e presidente na Bahia da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater) em 1990.

Em 1990, filiou-se ao PMDB, partido pelo qual foi eleito cinco vezes deputado federal. No Congresso, foi líder de bancada, presidente da Comissão de Finanças e Tributação e primeiro secretário da Mesa Diretora.

Presidente do PMDB na Bahia, foi um dos que se manifestaram pelo rompimento do partido com o governo Dilma, afirmando em entrevista ao jornal “Folha de S.Paulo”, em março deste ano, que o modelo da administração petista “se exauriu”.