Peritos Papiloscopistas realizam trabalho de excelência na identificação de vítimas do acidente do Gol 1907


Artigo de Alberto Estaine / Blog Agravo

1No dia 29 de setembro de 2006 aconteceu uma das maiores catástrofes da aviação brasileira e mundial. O Boeing 737 800 SFP (Short Field Performance), com 154 pessoas a bordo, da companhia brasileira Gol Transportes Aéreos sumiu dos radares aéreos às 16:48 min, logo após se chocar com o Embraer Legacy 600 no norte do estado do Mato Grosso. O choque ocorreu em uma área densa da floresta amazônica na Serra do Cachimbo, a duzentos quilômetros da cidade de Peixoto Azevedo.

O acidente ocorreu quando o avião da Gol viajava em uma mesma direção, porém em sentido contrário ao jato Legacy da Embraer, em uma absurda série de eventos combinados, chocando-se a 37.000 pés, asa esquerda com asa esquerda, enquanto o Gol se deslocava de Manaus para Brasília e o Legacy de São José dos Campos para Nova Iorque, com escala em Manaus. Foi um evento que até hoje desperta curiosidade por parte dos estudiosos, dada a raridade de choques de aeronaves em pleno trajeto, devido a segurança e precisão do monitoramento do espaço pela tecnologia e habilidade dos controladores de vôo.

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Com o impacto das asas, o Boeing da Gol perdeu sua sustentação e deu um mergulho quase em direção vertical rumo ao solo, provocando a despressurização da aeronave, não dando chances de defesa aos pilotos, e consequentemente se desintegrando no ar antes de colidir com o solo da floresta amazônica. Os pilotos do Legacy conseguiram pousar o jato logo em seguida, na base aérea da Serra do Cachimbo, no sul do estado do Pará.

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Dentre os profissionais que realizaram brilhantes trabalhos e que dedicaram total entrega de seus conhecimentos científicos e logísticos, destacaram-se os Peritos Papiloscopistas do DF, chegando a executar tarefas durante 12 horas por dia, identificando as vítimas que chegavam ao IML. O valor sentimental gerado por tamanho desastre foi apenas um dos desafios a ser batido pela equipe de especialistas em identificação humana, tendo que trabalhar com macacões sintéticos especiais, luvas, toucas, botinas de borracha e máscaras feitas com filtro de carvão ativado, que ajudam a eliminar o odor e diminuir o risco de contaminação de doenças como hepatite, tuberculose e meningite.

Imagens reais
Imagens

Os Peritos Papiloscopistas trabalharam em média 30 minutos em cada cadáver, tendo o trabalho de tratamento das luvas epidérmicas, pois as vítimas se encontravam no estado putrefativo mais conhecido como fase Enfisematosa, oferecendo maiores dificuldades no manuseio da pele e coleta das impressões digitais. Por isso, vários tecidos da pele humana foram tratados quimicamente em laboratório, desenvolvendo a aplicação de técnicas de desidratação e posterior coleta das impressões digitais.

Todas as formas de identificação cadavérica são importantes e altamente relevantes para a sociedade, mas as perícias através das digitais ganham um papel de destaque por ser muito rápida, barata (podendo chegar a um quinto do valor de uma perícia de DNA) e com 99,9% de confiabilidade, não existindo na história do mundo nenhum caso de repetição de impressão entre duas pessoas diferentes. Outro motivo forte para a rapidez da identificação feita pelos Peritos Papiloscopistas é o banco de dados feito pelos próprios através da expedição das carteiras de identidade. No caso Gol 1907, das 154 vítimas, 138 foram identificadas pelas impressões digitais, com confronto realizado pelas fichas e registros dos Institutos de Identificação. Outras quatro vítimas não foram identificadas pela papiloscopia pela má qualidade das impressões digitais, e o restante das vítimas não tinham registros no Brasil ou eram crianças.

Na Bahia, o Instituto de Identificação Pedro Mello (parte integrante do Departamento de Polícia Técnica) mantém em funcionamento e constantes aprimoramentos um grupo especializado (CIPAP-Coordenação de Identificação Papiloscópica) de profissionais Peritos Técnicos de Polícia Civil (Peritos Papiloscopistas), capazes de executar um serviço da grandeza de Brasília, estando prontos para atuarem em desastres em massas e oferecer trabalhos periciais de identificação necropapiloscópica. Além de atuar identificando pessoas, o Cipap também treina e qualifica Peritos Técnicos em toda a Bahia, habilitando e preparando profissionais para as mais diversas e complexas atividades no estado.

*Alberto Estaine Guerra Durão é Perito técnico de Polícia Civil e Coordenador SSP-DPT-IIPM Sac Itabuna /Setor de identificação