Turismo em Ilhéus


Por Gustavo Kruschewsky – [email protected]

Gustavo (2)Vários governos do Município de Ilhéus, mormente das últimas quatro décadas, não prepararam a cidade modernamente e de forma sustentada para incrementar o turismo, ou seja, para receber as pessoas de vários rincões que vêm a Ilhéus e depois retornam para o lugar de origem. Talvez não acreditassem no crescimento da cidade, no fenômeno demográfico e no estouro das migrações para a cidade de Gabriela Cravo e Canela. Enfim, não investiram num sistema turístico organizado a fim de receber os visitantes. Muitos turistas que visitam Ilhéus ficam alheios à realidade de muitos locais da cidade inclusive de alguns distritos que deveriam – se houvesse interesse das administrações públicas da cidade – continuar sendo bem tratados e organizados urbanisticamente para mais uma opção, principalmente de curtir o turismo rural. Exemplo bem atual é a cidade do Rio de Janeiro em relação às comunidades de Morros que têm sido locais que hospedam turistas estrangeiros. Infelizmente alguns distritos de Ilhéus – a exemplo do Rio do Braço, que faz esse articulista lembrar-se do famoso filme americano “e o vento levou” – estão completamente abandonados por causa da inexistência de cuidados da administração pública.

A conferência de Manila considerou que o turismo é importante para o ser humano e apostou nesta atividade como um dos indicadores de qualidade de vida. Alguns aspectos primordiais são importantes para que as pessoas que visitam Ilhéus tenham qualidade de vida. Para isso é fundamental que os governos municipais sejam éticos e politicamente corretos na organização do turismo da cidade. Não se deve descuidar da pavimentação de ruas e estradas – e de um serviço de trânsito diligente – que interligam os bairros, sede e distritos de forma sustentada para que todos possam ir e vir alegres e confortáveis.

Os governos municipais já deveriam ter feito parcerias – durante esses muitos anos que passaram – com órgãos do governo do Estado da Bahia a fim de implantar saneamento básico em todos os bairros e distritos da cidade que estão necessitados desta infraestrutura. Deve também o governo atual de Ilhéus atuar com firmeza na fiscalização diuturna de serviços de bares, pousadas, hotéis, lojas, restaurantes e outras atividades mercantis, a fim de se evitar preços exorbitantes de bens e serviços cobrados aos nobres turistas e moradores de Ilhéus. A intervenção da administração pública na organização turística é também imprescindível para garantir a segurança pública, considerando que, infelizmente, o movimento turístico pode por em risco entre si as pessoas que dele participam. É urgente organizar e ampliar o efetivo das guardas municipais. O sistema de iluminação de Ilhéus precisa ser eficiente nos quatro cantos da cidade durante os 365 dias de forma ininterrupto.

O que se espera até hoje é que a atividade turística da cidade deva ser desenvolvida observando principalmente aspectos culturais, éticos e de ordem ambiental, mas, não apenas pensar o “turismo” de Ilhéus diante de uma reunião ocasional de determinadas pessoas. Deve-se inserir no contexto do projeto turístico de Ilhéus as ideias junto com a coletividade organizada. As escolas devem se preocupar em doutrinar os seus alunos a fim de entenderem a importância de um sistema turístico humanamente educado, efetivamente planejado com um conjunto de diretrizes e regras previamente estabelecidas. Só assim pode-se dizer que a política de turismo em Ilhéus, que se quer criar, é ordenada ou desordenada.

Os gestores mores devem dar toda condição aos seus secretários e outros auxiliares para que o turismo seja efetivamente ordenado e ético. O art. 1.º do Código Mundial de Ética do Turismo alude que: “o turismo contribui para a compreensão e respeito mútuo entre homens e sociedade” e que “a compreensão e a promoção dos valores éticos comuns à sociedade, num espírito de tolerância e respeito pelas diversidades das crenças religiosas, filosóficas e morais, são ao mesmo tempo fundamento e conseqüência de um turismo responsável; os atores do desenvolvimento e os próprios turistas devem ter em conta as tradições ou práticas sociais e culturais de todos os povos, incluindo as das minorias e populações autóctones, reconhecendo a sua riqueza”.

Soçobra qualquer “intenção” de se fomentar a cidade de Ilhéus como destino turístico importante e preferido se não houver gestão organizada proposta com adequação do governo municipal de braços dados com vários segmentos da coletividade citadina. Tanto a sociedade quanto o poder público de Ilhéus deverão ser os atores responsáveis pela exitosidade da atividade turística. Do contrário Ilhéus terá apenas movimentos de pessoas que se aboletam na rodoviária, no aeroporto, nas ruas, nas praias, em pousadas, hotéis e casas alugadas, negando-se a essas pessoas a verdadeira atividade turística ordenada. Que não fiquem apenas ao sabor improvisado e desconfortável de festas populares onde se vê e amarga no contexto urbano e social falta de diretividade e ausência de normas procedimentais e linhas reguladoras e de segurança pública desejada. Portanto, não é simplesmente esperar que as pessoas saiam de suas cidades e dêem uma volta em Ilhéus para o fim desejado e caiam em vórtice ficando “ébrios de prazer” e depois retornem ao ponto de origem “satisfeitos” com a cidade que visitaram. É preciso oferecer qualidade de vida às pessoas que visitam Ilhéus.

Portanto, dar uma volta em Ilhéus e depois retornar para o lugar de origem é fazer turismo que significa tour em Francês e tornare em latim. Mas, é preciso entender que os escopos dessas pessoas, muitas das vezes, transcendem à atividade meramente do lazer. Tem gente e/ou grupos que fazem o grand tour a Ilhéus com o escopo de realização de negócios, participação de eventos, atividade religiosa, intelectual, artística, ambiental, etc. Não se esbarrando apenas no ócio que contempla também a atividade de lazer. Portanto, tanto as pessoas que visitam Ilhéus quanto a população autóctone devem ser respeitadas e elegantemente bem tratadas a fim de curtirem ao lado dos visitantes um turismo verdadeiramente organizado e ético que no contexto final proporcionará divisas para a cidade.

Gustavo Kruschewsky é advogado e professor.