A política do lepo lepo e o Brasil


Por Anna de Oliveira

A matéria que passou no Jornal da madrugada do SBT, nas primeiras horas desta sexta-feira (28), informou que a música “Lepo lepo” da Banda Psirico, na Bahia, é a mais cotada para o Carnaval de Salvador, e que vai de encontro com a tendência musical da ostentação, como o funk tem difundido através de estrelas emergentes e populares do Rio de Janeiro. Pois, como relata a letra da música “Lepo Lepo”, “não tenho carro, não tenho teto, não tenho grana, e se ficar comigo é porque gosta”.

Ao dar voz aos foliões para se definir o que viria a ser o “lepo lepo”, a matéria, por meio do discurso dos entrevistados, descreveu o “lepo lepo” como `amor`, ou o jeito de se `fazer amor`. O clímax da matéria se deu quando o cantor da banda, Márcio Vitor, foi entrevistado para trazer sua definição sobre o termo, afirmando: “o lepo lepo é contra o capitalismo, porque se ficar comigo é porque gosta. O lepo lepo é amor”.

Análise: um cantor altamente adornado de bens de consumos acessíveis a pessoas de poder aquisitivo, que têm carro, teto e grana, afirma que sua música é contra o capitalismo. Sendo que, seu produto de venda, dentro desse mesmo sistema, são as suas músicas, letras, banda, isto é, todo o capital produzido e beneficiado com o sucesso e propagação do negócio cultural. Este, que é o instrumento de trabalho para se gerar o produto, as próprias músicas, as apresentações, ou seja, o instrumento de sustentação financeira.

Por se tratar de um meio de produção cultural, este tipo de produto se caracteriza como ‘coisa’ processada cognitivamente por meio de um intenso e contínuo CONSUMO de linguagem, para que seus consumidores permaneçam ativos num ciclo de alienação (ligação), e fiéis à onda musical, alimentando a cadeia produtiva cultural. Este processo implica, assim, para que os consumidores COMPREM os ingressos que estão a VENDA, dos shows da banda, dos blocos, festas particulares, cd’s, e aumentem a popularidade artí$tica na rede, com os downloads das músicas e retroalimentação das vendas e ideias, continuamente.

Além disso, a matéria e a música “Lepo lepo”, através do recurso da corrupção da linguagem – imposto pelos detentores hegemônicos dos instrumentos de produção e difusão de linguagem e sentido, como os meios de comunicação, sistemas de educação e as universidades, por exemplo -, se esforçam para transverter o valor ontológico e alto do amor, buscando-se trazê-lo para o escalão mais baixo, onde residem as fontes de aspirações decaídas do ser humano, tentando legitimar o amor neste mísero terreno.

No mesmo sentido, esta é a ideia ensinada para a massa e a ideia da massa: pela forte tendência, rotula-se de pobre e coitado no tempo em que esbanja crítica ao sistema, acabando por fomentar e fortalecer esse mesmo sistema, através da promoção da denúncia. Você denuncia e promove.

Esta se chama a esquerda caviar. É ‘muito melhor’ difundir a precariedade, a pobreza, ficando a massa convencida de sua condição de vítima do capitalismo, aceitando-se o estado de desprovido de recursos e bens materiais, legitimado pelos discursos, do que se fomentar a prosperidade, possibilidade de desenvolvimento humano, a superação, crescimento e a força produtiva de capital pelos indivíduos e grupos sociais. Assim, sobram mais recursos, bonanças líquidas e materiais, as ‘fatias dos bolos’ para os ideólogos e detentores do poder, forrados de saciedade e bens de consumo, que discursam para as multidões idiotizadas. É desse modo que ‘sobra mais’ para os doutrinadores políticos, e menos, muito menos, a parcela míííínima, para a multidão, esmagada e usurpada. Esta é a realidade política brasileira, a esquerda caviar: Tudo para nós, nada para eles. Tudo isso em prol das tão propagandeadas e não aplicadas ideias errôneas da “distribuição social da riqueza” e “justiça social”. Isso se chama crueldade, em nome das minorias excluídas.

Para esta análise reflexiva, trago a classificação de Aristóteles que o autor Paulo Bonavides expõe na obra “Ciência Política”, sobre as formas dos Governos Puros e Impuros. Nos Governos Puros, aqueles titulares da soberania, exercem o poder soberano tendo invariavelmente em vista o interesse comum. Já os Governos Impuros, elemento objeto pertinente para esta abordagem, ao invés do bem comum, prevalece o interesse pessoal e particular dos governantes contra o interesse geral da coletividade, antidemocrático. Então vem a Oligarquia, governo do dinheiro, da riqueza desonesta, dos interesses econômicos antissociais, e a demagogia, governo das multidões rudes, ignaras e despósticas. Sobre este último, Montesquieu explica que o Estado Déspota, o despotismo, é um governo que nega a liberdade sob o impulso da vontade e dos caprichos pessoais dos governantes.

Esta perspectiva demonstra as formas de governo que os chefes políticos contemporâneos utilizam sob a égide democrática, enquanto que na realidade só buscam atender seus próprios interesses, regulando as ações do Estado em benefício próprio, como novas legislações e o oportunismo dos programas populistas, que não pensam no interesse comum da sociedade, mas apenas na manutenção do poder.

Isso é o Brasil, o carnaval, a política, o futebol, a tendência, a nova ordem mundial. E quem vai bancar as regalias do governo tirânico e sofrer diretamente a exacerbação ainda mais expressiva das discrepâncias sociais? Os contribuintes, os que trabalham, as famílias, as pessoas de bem, rotuladas injustamente por um discurso político como “burguesas”, ohh!, responsáveis pelas injustiças sociais deste mundo tão cruel, por isso precisam ser eliminadas, o proletariado precisa dominar os meios de produção e extirpar as famílias e as bases da sociedade ocidental, os valores judaico-cristãos, como pregam o marxismo e o comunismo. Olhe para o recente exemplo da Venezuela, e veja para onde o Brasil está indo, para o bolivarianismo, se as coisas continuarem nesse ritmo, e se nada for feito para dar um basta na esculhambação do Estado de Direito. Existe um Estado dentro de outro Estado, usurpando por completo a soberania da nação.

A lavagem ideológica está infestada em significativa quantidade dos sistemas de linguagens da sociedade, intimamente ligada aos sistemas de ensino médio e superior (fábricas de militantes), e principalmente nos mais potentes e acessíveis por tecnologia.

Termino esta reflexão com o recente pronunciamento (27) do Ministro do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa, a respeito da absolvição de oito réus do processo do mensalão por formação de quadrilha: “Sinto-me autorizado a alertar a nação brasileira de que este é apenas o primeiro passo. Esta maioria de circunstância tem todo tempo a seu favor para continuar nessa sua sanha reformadora”, disse. “Essa maioria de circunstância [foi] formada sob medida para lançar por terra todo um trabalho primoroso”. Isto é, o trabalho verdadeiro da justiça, e não o desserviço ideológico.

O totalitarismo está aí. Não temos oposição. Bem-vindos…

* Anna de Oliveira, 26, é ilheense, poeta, jornalista e estudante de Direito.

Agradeço ao filósofo Olavo de Carvalho pelos valiosos ensinamentos, verdadeiro intelectual ativo para abertura da cabeça de milhares de jovens brasileiros como eu. Não posso deixar de agradecer também ao colaborador desse processo, o jornalista Felipe Moura Brasil, organizador da obra “O mínimo que você precisa saber para não ser um idiota”, do supracitado filósofo.

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