A ascensão de João Campos e o projeto de renovação do PSB


Por Jamesson Araújo

João Campos assume presidência do PSB com compromisso de renovação e unidade partidária. Foto: Cláudio Reis.

A aclamação de João Campos à presidência nacional do PSB marca um momento de transição e continuidade no partido, equilibrando a herança histórica socialista com a necessidade de renovação diante dos novos desafios políticos do Brasil. Sua eleição, consolidada em um congresso com a presença de figuras como o presidente Lula, o vice Alckmin e o presidente da Câmara, Hugo Motta, simboliza tanto o fortalecimento da aliança com o governo federal quanto a aposta do PSB em uma liderança jovem, mas já experiente, capaz de dialogar com as múltiplas realidades do país.

Campos assume o partido com um discurso que evita rupturas radicais, mas enfatiza a adaptação programática e organizativa. Ao invocar o legado de Miguel Arraes e Eduardo Campos, ele reafirma o PSB como uma força enraizada na resistência democrática e na defesa de políticas progressistas, sem, contudo, ignorar a necessidade de modernização. Sua fala sobre “renovar sem apagar a história” reflete uma estratégia clara: manter a identidade socialista enquanto amplia a base eleitoral e institucional do partido, seja nas prefeituras, nas bancadas ou no empreendedorismo.

O tom de unidade e colaboração destacado em seu discurso é um recado tanto à militância quanto aos aliados. Ao reforçar o apoio a Lula em 2026 e elogiar a aliança com Alckmin, Campos sinaliza que o PSB seguirá como um pilar da frente ampla democrática, mas também busca espaço próprio na construção de um projeto nacional. A menção às “maiorias que antes não existiam” — em referência às mudanças sociais, religiosas e econômicas — revela uma percepção aguda de que o partido precisa se reconectar com essas novas dinâmicas para não perder relevância.

Por fim, a ênfase em uma política “mais humana” e empática, inspirada em lições de seu pai, Eduardo Campos, sugere uma tentativa de resgatar a imagem do PSB como um partido próximo das demandas populares, em contraste com o pragmatismo excessivo que muitas vezes domina o cenário político. Se conseguirá traduzir esse discurso em uma prática capaz de expandir a influência socialista, dependerá de sua habilidade em conciliar tradição e inovação, sem perder de vista os desafios de um Brasil cada vez mais complexo e fragmentado.

O PSB, sob o comando de João Campos, parece disposto a ocupar um lugar central no tabuleiro político nacional, mas seu sucesso estará atrelado à capacidade de transformar palavras em ações — e, sobretudo, de unir um partido diverso em torno de um projeto comum.

A troca de comando no PSB, com a saída de Carlos Siqueira (70) e a posse de João Campos (31), marca simbolicamente uma tentativa de renovação geracional na política nacional, especialmente no campo centro-esquerdista. No entanto, esse movimento ocorre em um contexto mais amplo de dificuldades enfrentadas pela esquerda brasileira para promover novas lideranças e se desconectar de estruturas tradicionais, como o “familismo” e a dependência de figuras históricas.

A dificuldade de renovação permeiam todo o espectro partidário, da esquerda à direita.

O problema, porém, parece mais agudo na esquerda. Enquanto a direita ainda debate possíveis sucessores de Jair Bolsonaro (PL), como seus filhos e aliados próximos, a esquerda enfrenta o desafio de construir alternativas ao lulismo sem depender exclusivamente de Lula (79), que segue sendo o principal nome do campo progressista. A falta de novas lideranças com projeção nacional capaz de galvanizar apoio popular é um obstáculo estratégico para a esquerda nos próximos anos.

O PSB, ao promover João Campos, tenta reposicionar-se como um partido capaz de conciliar experiência e juventude. No entanto, a efetividade dessa renovação dependerá de sua capacidade de ir além do simbolismo e construir um projeto político que dialogue com as demandas atuais da sociedade, superando vícios do passado.

A convenção do partido, com a brincadeira de Geraldo Alckmin (72) chamando Siqueira de “broto”, ilustra o tom ambivalente desse processo: há um reconhecimento da necessidade de rejuvenescimento, mas ainda sob a égide de uma geração que permanece influente.

Se a esquerda quiser evitar um esvaziamento político no médio prazo, precisará não apenas trocar nomes, mas também renovar ideias, discursos e formas de conexão com o eleitorado. O PSB deu o primeiro passo, mas o caminho é longo e cheio de desafios.