Eleições Bahia 2022- Poder das pesquisas na estratégia dos candidatos


Por Angelo Martins

Após uma incrível reviravolta na formação da chapa governista, com a impensável assunção do desconhecido Jerônimo em substituição ao conhecidíssimo Jaques Wagner, com a troca de apoios igualmente imprevisíveis (João Leão/PP indo pro campo da oposição e o PMDB voltando ao colo do PT), o cenário político de momento aponta para uma clareza de estratégia poucas vezes vistas.

No lado oposicionista, as pesquisas de momento apontam para uma liderança folgada de ACM Neto, na casa dos 60% nas pesquisas sem associação com a eleição nacional e, quando associada campanha pra presidente acima da casa dos 40%. João Roma por sua vez, aparece na casa dos 10%.

No lado Governista, o desconhecidíssimo Jerônimo do PT salta para casa dos 30% quando associado ao nome do ex-presidente Lula, líder das pesquisas.

É aqui que as estratégias se apresentam.

Antes de mais nada, não sejamos presunçosos. A política é uma ciência complexa, que mexe com subjetivismos, dai ser tão controversa. As razões de devoção de um eleitor a um determinado político pode ser a da rejeição de outro eleitor. 

A profissionalização da política conduz, por exemplo, a um papel de preponderância as pesquisas, mas, não necessariamente essas, que citamos anteriormente, a chamada “Pesquisa Quantitativa” que diz quem está na frente.

A pesquisa que mais interessa saber, e que quase nunca é divulgada por ser a chave da estratégia de cada agrupamento é a chamada “Pesquisa Qualitativa”, em linhas gerais, um grupo eleitores representativo do espectro do eleitorado é submetido a uma série de questões quais suas reações são filtradas para compor um resultado.

Mesmo desconhecendo o resultado dessas pesquisas, pelo comportamento dos principais candidatos parece evidente o resultado desses estudos.

O melhor cenário para ACM Neto é fugir de antagonizar com Lula do PT e, ao mesmo tempo, não se associar a Jair Bolsonaro nem antagonizar com o mesmo, encampando o discurso de que é candidato ao Governo da Bahia, portanto, não misturando os pleitos.

O melhor cenário para Jerônimo é colar a imagem a Lula do PT e, ao mesmo tempo associar ACM Neto a Jair Bolsonaro. A história do Time de Lula será repetida mais uma vez.

Dada a força de Lula na Bahia, João Roma parece ter a missão mais difícil, precisa colar no Presidente Jair Bolsonaro, que por sua vez, segundo as pesquisas de hoje, lhe dariam no máximo ¼ do eleitorado local, insuficiente pra pensar numa vitória.

A questão que muitos perguntam é, será que Lula será capaz de passar todo seu capital político na Bahia para Jerônimo ou o eleitor vai votar em Lula e ACM Neto, numa dobradinha informal?

Muitos que acham que o voto casado virá e que Jerônimo poderá repetir Wagner em 2006 e 2010 Rui em 2014 e 2018. A benção de Lula seria suficiente.

Tudo é possível, mas, algumas situações são bem pedagógicas.

A primeira é que, ao que indica, Lula, já sem a força de outrora, numa eleição que tem tudo pra ser acirrada, também não parece estar muito disposto a antagonizar com ACM Neto e anular um potencial apoio de um candidato inegavelmente favorito.

Se Lula estivesse “voando” certamente seria muito útil para Jerônimo. O Lula de 2022 não é nem de longe o líder da onda vermelha que varreu o país em 2002 até 2014, embora não se possa desprezar sua força, especialmente na Bahia.

Por outro lado, ACM Neto parece já estar familiarizado com a estratégia “equilibrista”, foi assim em 2012, em sua primeira eleição de prefeito quando venceu o Candidato do PT, Nelson Pelegrino, num segundo turno apertadíssimo, tendo o Governador (Wagner), a Presidente (Dilma) e Lula ostensivamente na campanha.

Na sua reeleição de ACM Neto, dado seus altíssimos índices de aprovação, o PT sequer lançou candidato, outorgando a missão espinhosa para Alice Portugal (PC do B), Neto foi reeleito no 1º Turno com 74% dos votos, Alice teve 15% com apoio de Governador (Rui), Lula ostensivamente na campanha. Na época, o PT tentou colar o impopular Temer em Neto.

Na eleição de prefeito de 2020, o PT mudou a estratégia, na fadiga de nomes, colocou a desconhecida Major Denice pra enfrentar Bruno Reis o pupilo de ACM Neto. O roteiro era o mesmo, colar o grupo de Neto em Bolsonaro. Reis foi eleito com 64% dos votos, no primeiro turno.

Obviamente que a eleição pra Governador é de espectro maior. São 415 municípios, cuja base governista tem a maioria dos prefeitos.

Por outro lado, ACM Neto construiu um arco de maior aliança política, muito maior que a governista. Some-se ainda que a “marca” ACM ainda tem um séquito de seguidores…. enfim, a eleição tem tudo para ser definida a um lado, apenas e somente a estratégia escolhida for a certa.

Estará ACM Neto apostando certo em não se vincular?     Estará o PT apostando certo em tentar colar em Neto a pecha de Bolsonarista? 

E os Bolsonaristas, abandonarão o candidato do Capitão pra garantir a retirada do PT do poder já no 1º turno, ou acreditam que Roma é viável?

Uma coisa é certa, todas as peças mexidas nesse tabuleiro têm um porquê não baseado em subjetividade, mas, como disse, nas tais “pesquisas qualitativas”.

Por fim, a prática. A campanha de ACM Neto lançou o jingle uma nova versão do avô de 1989 (“ACM meu amor”). A campanha de Lula lançou o jingle uma nova versão da campanha de 1989 (“Lula lá”), certamente, a “pesquisa qualitativas” captou a mensagem que o eleitor quer de ambos.