Em apenas 100 anos, 45 altos e morros de Ilhéus passaram a ser habitados


A ocupação dos altos e morros de Ilhéus começou na década de 1920. Hoje, 100 anos depois, a cidade convive com 45 regiões habitadas em pontos altos da cidade. Números estimados pela Defesa Civil apontam que, hoje, residem nos altos e morros de Ilhéus 17 mil famílias em áreas de anormalidade (não possui regulamentação de imóveis e aonde sequer chegam serviços essenciais), 5 mil famílias em áreas de risco e mais 20 mil famílias em áreas de morro. A geografia acidentada da zona urbana e o crescimento populacional acentuado registraram, em apenas um século, um cenário preocupante: absolutamente em todos estes locais há necessidade de intervenções para garantir a segurança dos seus habitantes.

Geógrafo e engenheiro civil, pós-graduado em planejamento de cidades e em gestão e invasão costeira, o coordenador da Defesa Civil, Joandre Neres, destaca a complexidade que se tem ao debater este tema em Ilhéus. “Começa desde a denominação”, explica. “O que diferencia a expressão ´altos e morros´, por exemplo, é a infraestrutura da região e a quantidade de pessoas que nela reside”, completa. Neres lembra que as condições de acessibilidade continuam sendo um dos maiores dramas dos moradores destas comunidades. “Dos 45 altos e morros, apenas 12 têm acessibilidade de veículos com serviço de transporte público. Mesmo assim de forma precária”, enumera. “A maioria destas localidades conta apenas com escadarias”, completa.

Audiência

Os altos e morros de Ilhéus foram tema de uma Audiência Pública, hoje (13) à tarde, na Câmara de Ilhéus, atendendo a um requerimento do vereador Fabrício Nascimento (PSB). Além dos vereadores Jerbson Moraes (PSD), Ederjúnior dos Anjos (PSL), Sérgio do Amparo (Podemos), Baiano do Amendoim (PSDB), Gurita (PSD), Ivo Evangelista (Republicanos) e Enilda Menbdonça (PT), o evento reuniu representações e lideranças comunitárias destas localidades, autoridades militares e diretores da Embasa. Os secretários Átila Dócio (Infraestrutura e Defesa Civil) e Rubenilton Silva (Promoção Social e Combate à Pobreza) e a enfermeira Daniela Navarro (representando a secretaria de Saúde) também participaram do evento.

Presente à Audiência, Eduardo Mendes, liderança do Alto do Basílio, disse que a comunidade do morro vive diante de um extremo descaso. “A calamidade é grande”, resume. “Muitas vezes é a gente quem faz mutirão para fazer as coisas na comunidade”, informa Sérgio Oliveira, representante do Alto da Esperança. Do Alto da Legião, Raílton da Costa Santos garante que os problemas dos altos de Ilhéus só mudam de endereço. “Nossas encostas são uma tragédia anunciada”, reforça Juliano Pereira, do Alto Boa Vista.

Derrubar muros

“É preciso derrubar o muro que divide a região plana e os altos e morros de Ilhéus”, destaca o presidente da Câmara, Jerbson Moraes. O parlamentar considera “um grande problema” o fato de sempre parecer que os altos e morros de Ilhéus não estão integrados ao restante da cidade. “Tudo isso é reflexo de uma questão cultural e da forma de administração pública feita por anos e anos”, lamentou. “Devemos aproveitar essa audiência para iniciar uma mudança de paradigma. Precisamos enxergar o morro como um local habitado por trabalhadores e trabalhadoras e uma região produtiva da cidade”, afirmou.

O vereador Ivo Evangelista destaca que a Câmara de Ilhéus nunca se eximiu em fazer o seu trabalho de encaminhar as reivindicações aos órgãos cabíveis. A questão, completa a vereadora Enilda Mendonça, é que os problemas se agravam por décadas. “Sempre resolvemos o tapa-buraco, mas é preciso pensar na infraestrutura a longo prazo. Há décadas Ilhéus discute os morros, mas não há solução para eles”, dispara.

Problema antigo

Vereador em exercício, Sérgio do Amparo, lembra que os morros estão gritando, mas esse, segundo o parlamentar, é um problema que já vem de outras gestões. Representante destas localidades, ela assegura que já existem indicações e requerimentos em benefício destas comunidades. Cansado de esperar por ações, o vereador até desenvolveu um projeto de revitalização das encostas. “O que eu acredito é que é muito importante trazer as emendas ano que vem para a cidade de Ilhéus. Assim ajudaríamos o Poder Executivo a executar essas obras”, analisa o 1º secretário da Casa, vereador Ederjúnior dos Anjos.

No âmbito da segurança pública, o comandante da 68ª Companhia, Major Wesley Siqueira, destacou a existência do projeto “Comando Alto”, que atende a essas comunidades. “Todos conhecem os problemas de sua localidade, desde a falta de infraestrutura, acesso, transporte, iluminação e tudo isso impacta diretamente na segurança pública”, afirma o Capitão PM, Cláudio Lopes, comandante da 69ª Companhia. “Temos dificuldade em ter acesso a estas localidades e como consequência, isso propicia a atuação de criminosos de uma forma mais efetiva nestas localidades”, alerta. Para o Capitão PM Álvaro Magalhães, Comandante da 70ª Companhia, a principal preocupação do seu comando é com o tráfico de drogas.

Treinamento

“Criamos equipes itinerantes de saúde para visitar as comunidades de forma contínua para que levemos até os altos, equipe disciplinar de saúde”, destaca a enfermeira Daniela Navarro. Além disso, afirma, a saúde pôde perceber em conversas com a comunidade a importância de acesso às emergências (subida de ambulâncias) e, por conta disso, desenvolveu junto à secretaria um programa de capacitação de moradores para prestar os primeiros socorros.

O secretário Rubenilton Silva assegura que não faltam esforços do poder executivo para melhorar a vida das pessoas que residem nos morros. “Muitas vezes nos meses mais chuvosos subimos os altos para desenvolver ações para atender essa população vulnerável”, disse, reconhecendo, entretanto, que é muito difícil o poder público acompanhar o crescimento urbano desordenado da cidade.

Secretário de Infraestrutura, o engenheiro Átila Dócio explica que é com recurso federal que é possível resolver a questão das encostas e morros de Ilhéus. “Para que isso aconteça, existe uma questão burocrática, desde a elaboração do projeto, da busca pelo capital, autorização de solicitação até se chegar à execução”. Esta dependência, resume, é por conta de custos mais elevados em obras deste porte, que exigem uma técnica de engenharia mais apurada.

Matéria da Ascom Câmara de Vereadores de Ilhéus.