A saída da Ford do Brasil/Bahia é uma soma de incompetências


Editorial do Blog Agravo.

Já dizia minha avó: “quem tem um não tem nenhum”. A vinda da Ford foi paradigmática, à revelia do senso comum, instalou-se a primeira montadora de carro do Norte-Nordeste, mérito, à época, do velho ACM. O PT, todos sabem, votou contra. Os parlamentares do PT da Bahia votaram contra, com destaque para Jaques Wagner e seu uso frenético da tribuna do congresso contra a vinda da Ford para Bahia, anos depois Wagner viraria Governador.

O projeto Ford/BA cumpriu sua missão inicial, mudou o perfil da indústria baiana, antes atrelada a insumos, passando processo para produção de produtos de alto valor agregado, trazendo, a seu reboque, todo um segmento até então inexistente, a exemplo da indústria de pneus, autopeças, espumas, dentre outras.

Havia uma obviedade no sucesso. Para se consolidar esse novo perfil industrial, seria imperioso trazer outras indústrias automobilísticas. Eis que o governo Jaques Wagner anuncia a vinda da indústria Chinesa JAC Motors, com direito a solenidades, propaganda em TV e até “enterro de carro”. A indústria não veio e virou um grande mico do petismo baiano.

Paralelamente, sob fortes incentivos do governo Lula, Pernambuco recebe praticamente de uma só vez, 02 (duas) indústrias de automóveis, a FIAT/JEEP e a Hyundai. Pernambuco, até então “virgem”, ganhou duas indústrias.

O fato é que, a primeira incompetência nesse processo tem o DNA do PT local, que incapaz de encarar o “Coronel Lula”, deixou um nicho industrial de alta transformação reduzida a uma única empresa. Na época o Governador Jaques Wagner fazia questão de ressaltar os laços de amizade com o então presidente Lula, aparentemente, essa amizade se limitava a bons whiskies.

A segunda incompetência também tem o carimbo petista. Não se pode negar que o processo de desindustrialização do Brasil vem acontecendo há anos, fruto de uma legislação complexa e um sistema de logística ineficiente e caro, o que pode ser reduzido no denominado “custo Brasil”. Em 14 anos no poder, refém de sindicatos e surfando na popularidade de programas sociais, o PT abandonou a indústria, em especial, aquelas com alta tecnologia.

O governo do PT foi incapaz de fazer a leitura do cenário internacional no tempo certo. Não percebeu o quão competitiva a indústria ficou a partir do “fator China” (custo baixo de produção). Se negou a revisar as relações trabalhistas concebidas em 1941 e sucumbiu à incapacidade gerencial de dinamizar o custo de logística. Hoje pagamos o preço.

O terceiro fator da incompetência, sem dúvida, fica nas mãos da dupla Bolsonaro/Guedes. O primeiro pela permanente instabilidade política, timidez no avanço de projetos e reformas, resistência às práticas de sustentabilidade exigidas pelo mercado mundial, dentre outros. Já Paulo Guedes pecou aos montes. Primeiro pela incapacidade de implementação da prometida agenda liberal. Não se avançou 1 cm nas privatizações, tampouco na reforma tributária e pra piorar, o dólar simplesmente estourou as previsões mais pessimistas.

Em relação ao dólar, sem dúvida, o governo Bolsonaro conseguiu o fenômeno de encontrá-lo a R $3.80, que hoje está no valor de 5.40. O real foi a moeda que mais se desvalorizou no mundo, perdendo para moedas como da falida Argentina, mesmo tendo declarado calote na dívida. A famosa frase de Paulo Guedes que o dólar só romperia a casa dos 5 reais apenas se o Governo fizesse muita besteira se confirmou… o Governo fez muita besteira.

Com dólar oscilando na casa dos R$ 5.50, a indústria de alto valor agregado foi inviabilizada, afinal, existe uma cadeia global de suprimentos, atrelada ao dólar. A disparidade da moeda norte-americana vai assim desmontando a indústria de maior complexidade tecnológica. O Brasil caminha para virar uma grande fazenda. Com dólar tão alto associado ao Custo Brasil, nosso destino será produzir e vender cana de açúcar, aço, carne … isso, se os países ainda aceitarem as idiossincrasias do relacionamento internacional do atual presidente.