Com Ciro Gomes, Transnordestina não avançou


Ciro Gomes (PDT).

As “medidas simples” que o candidato Ciro Gomes prometeu adotar para destravar a maior parte das 7.600 obras de infraestrutura paralisadas em todo o País não chegaram aos canteiros da Ferrovia Transnordestina, maior projeto ferroviário do Brasil que o presidenciável do PDT nas eleições 2018 comandou entre 2015 e 2016.

O Estadão fez um levantamento sobre as obras da Transnordestina na gestão de Ciro, mobilização de trabalhadores, evolução física do projeto, revisões de estudos e desempenho financeiro do empreendimento liderado pela Companhia Siderúrgica Nacional (CSN).

As informações do projeto, que já consumiu mais de R$ 5,7 bilhões dos cofres públicos, segundo o Ministério dos Transportes, foram obtidas com base em cruzamento de relatórios da própria CSN, que constrói a ferrovia em sociedade com a estatal Valec, fiscalizações realizadas pela Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) e auditorias do Tribunal de Contas da União (TCU).

Ciro chegou à presidência da concessionária Transnordestina Logística em 3 de fevereiro de 2015, com a promessa de destravar o projeto de 1.753 quilômetros de extensão e acelerar a conclusão da ferrovia que, depois de nove anos de obras, tinha alcançado apenas 518 quilômetros de trilhos. O orçamento de R$ 4,5 bilhões havia crescido para R$ 7,5 bilhões e o cronograma de entrega, antes previsto para 2010, não tinha mais data.

Durante todo o ano de 2015, Ciro entregou um total de 81 quilômetros de trilhos, o equivalente a 4% do projeto. A Transnordestina terminava aquele ano com 599 quilômetros de traçado, sem avançar. Em 2016, conforme balanços da CSN e da ANTT, a evolução foi zero.

Também houve demissões no empreendimento durante a gestão do pedetista. Em fevereiro de 2015, quando Ciro chegou à empresa, havia 5.356 trabalhadores mobilizados na ferrovia, conforme balanço auditado pela Delloite. O contingente chegou a subir para 6.401 funcionários dois meses depois, mas despencaria nos meses seguintes. Em maio de 2016, quando Ciro deixou a empresa, a Transnordestina tinha 1.261 empregados, 4.095 pessoas a menos.

Na ocasião, Ciro declarou que se afastava da empresa “para evitar que perseguições políticas a sua posição contra o governo interino” de Michel Temer interferissem “no andamento da obra”. À época, no entanto, uma decisão paralisava a obra de vez. O ministro do TCU Walton Alencar Rodrigues havia determinado que mais nenhum centavo de dinheiro público poderia ser liberado à Transnordestina por causa de “vícios insanáveis” e mudanças de projeto, entre elas o seu preço. “Sequer existem elementos que permitam aferir o custo real da obra”, disse o ministro.

A decisão bloqueou todos os repasses da Valec, BNDES, Fundo de Investimento do Nordeste (Finor), Fundo Constitucional de Financiamento do Nordeste (FNE) e Fundo de Desenvolvimento do Nordeste (FDNE). O TCU chegou a suspender a liminar que paralisava os repasses, mas voltou atrás e a medida se mantém até hoje.

Ciro foi procurado pela reportagem desde quarta-feira, 22, para comentar o assunto, mas não se manifestou até a conclusão desta edição. A concessionária Transnordestina foi questionada sobre cada informação atrelada a suas operações e à gestão de Ciro, mas apenas afirmou que “não comenta assuntos que envolvem política”.

Informações do Estadão.